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segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

A moda é uma arte?

A procura da beleza na moda faz com que o trabalho do desenhista se aproxime muito do trabalho do artista.

Como este, o costureiro precisa de elementos de inspiração para criar, para confeccionar as suas coleções. Há alguns desenhistas que se inspiram numa determinada época histórica (daí os famosos revival que recuperam vestes do passado adaptando-as à atualidade), numa gama de cores, em determinados tecidos...

A moda é uma arte; alguns vestidos de alta costura não têm nada a invejar aos objetos de ourivesaria; no polo extremo, a semelhança entre o estilo grunge e a pintura hiper-realista é bastante evidente.

O mérito da moda como arte é que, com palavras do filósofo Manuel Fontán de Junco, "conseguiu estabelecer uma ponte entre a beleza e a vida. A moda é uma arte que se usa, que se leva para a rua; é uma arte de consumo a que todos têm acesso"[1]. E é fundamentalmente uma arte humana. Uma arte feita por e para o homem.

O desenhista não veste muros, nem enfeita varas, veste pessoas humanas com tudo o que isto implica. Por isso, a moda não é só uma realidade estética mas também ética. O desenhista não pode esquecer a dignidade da pessoa ao concretizar as suas criações. A roupa tem que servir para salientar essa dignidade; por isso têm sentido as críticas que se fazem a um tipo de moda que mostra a mulher como um objeto. Ultimamente as passarelas viram-se inundadas por uma moda extravagante que, apoiando-se nas transparências, decotes e linhas apertadas e hiper-ajustadas, desnudam a mulher mais do que a vestem. São muitos os que vêem neste tipo de moda uma retrocesso na conquista da igualdade. Algumas passarelas convertem de novo a mulher num objeto, num belo animal que se mostra para agradar.

Face ao proclamado ocaso do machismo, estas passarelas convertem-se em redutos nos quais se continua a considerar a mulher como um objeto sexual. Machismo que se manifesta também na diferença em vestir o homem e a mulher; no primeiro caso aposta-se na elegância e no bom gosto, no segundo na sensualidade. O desenhista veste o homem e despe a mulher, o que não deixa de ser um paradoxo numa sociedade que se presume de igualitária.

Enquanto alguns protestam energicamente contra esta forma de entender a moda, já que opinam que lesa a dignidade da pessoa - sobretudo da mulher -, outros alegam que o desnudo pode ser artístico, que pode transpirar beleza, que uma modelo semi-despida na passerelle não tem que ser necessariamente imoral. Que as transparências, as aberturas e os decotes são só meios de tornar mais patente a beleza da pessoa. Perante este dilema, surgem algumas perguntas: Qual é a apreciação verdadeira desta moda atual? Não se torna exagerado criticar estas tendências? Não serão estas críticas marcas de um puritanismo já ultrapassado? Existe uma ética no vestir? E uma ética do desnudo?

             



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